Archive for 05/11/2010

TRISTES TEMPOS DE XENOFOBIA E PRECONCEITO

Mayara Petruso, estagiária de direito (?!?) divulgou, via Twitter, no último domingo, um triste comentário sobre as eleições presidenciais, discriminando os nordestinos e incitando a violência contra eles. O motivo? A esmagadora vantagem que Dilma Rousseff obteve sobre José Serra na região nordeste.

A opinião merece o nosso mais contundente repúdio, não apenas pelo alto conteúdo xenofóbico, mas especialmente por ancorar-se numa visão preconceituosa do mundo e em especial dos brasileiros.

Esse tipo de atitude traz ínsita em si a idéia de que os cidadãos do sudeste e do sul do país são os únicos aptos a exercer a capacidade eleitoral ativa (o direito de voto). Brancos, de classe média alta ou ricos, situados no topo da pirâmide social, os eleitores dessas regiões constituem uma categoria de brasileiros superiores aos demais.

Em contraposição a esses esclarecidos e elitizados cidadãos, nordestinos são analfabetos, pobres, ignorantes, facilmente manipuláveis e votam no candidato oficial porque recebem do governo o “bolsa esmola”, que é o nome dado pela esposa do candidato José Serra ao programa bolsa família (embora, curiosamente, seu marido, em supina demagogia, tenha propagado na campanha que daria um agrado aos beneficiários, caso eleito).

Curioso é que os EUA, país símbolo do liberalismo econômico, tem um programa semelhante ao nosso bolsa família, informa Luiz Carlos Azenha do blog VIOMUNDO (www.viomundo.com.br), que lá é denominado “food stamps” (cupom comida, numa tradução literal).

As infelizes palavras da estudante de direito negam valor ainda ao postulado da igualdade política, segundo o qual “cada cabeça tem direito a um voto” e “o voto de um tem o mesmo valor que o voto de qualquer outro”.

Frise-se também que voto é expressão de preferências. O eleitor, ao fazer suas escolhas, leva em conta os mais variados fatores, não havendo nenhum demérito quando sua opção leva em conta o que considera o mais vantajoso para si ou para o seu grupo.

Daí porque não é o voto que se desqualifica, com essa lastimável manifestação, mas o próprio regime democrático, porque por trás dessa opinião encerra-se o conceito de que as pessoas bafejadas pela sorte e que tiveram acesso a serviços e insumos que outros nunca tiveram estão mais capacitadas ou qualificadas para escolher os destinos de um município, de um estado ou de uma nação.

No entanto, sabe-se que eleitor que opta por um candidato ou partido em razão de sua linha programática ou ideológica não é melhor que aquele cuja escolha se dá de forma mais pragmática, levando em conta situações concretas que o atingem no dia a dia. Aliás, o eleitor médio faz exatamente isso: vota de acordo com os seus interesses, o que é absolutamente legítimo.

As sociedades não são uniformes, como é sabido e, por esse motivo, há diversos graus de motivação e interesses envolvidos nas eleições. O voto de qualquer eleitor mais participativo, engajado ou esclarecido tem o mesmo valor (não apenas do ponto de vista formal) que o de qualquer um, independentemente de seu grau de instrução ou status social.

Os nordestinos não têm do que se envergonhar (e certamente não estão envergonhados). Exerceram na plenitude o seu direito de voto. Foram às urnas expressar suas preferências, fortalecendo nossas instituições e o regime democrático.

Parafraseando Azenha, digo que pessoas como Mayara Petruso certamente acham chiquérrimos os programas sociais implantados na França, na Alemanha e nos Estados Unidos, mas têm “horror” dos programas sociais brasileiros, até porque pobre de país rico é mais chique que pobre de país pobre.

05/11/2010 at 19:56 Deixe um comentário


Posts recentes

novembro 2010
S T Q Q S S D
1234567
891011121314
15161718192021
22232425262728
2930