Archive for 04/11/2010
IPTU, GREVE E OTRAS COSITAS MÁS
Tenho acompanhado os últimos acontecimentos políticos em Unaí, inclusive pelos excelentes blogs do José Antônio (http://opiniaoepontodevista.blogspot.com) e do Paulo Melo (http://unaimg.com.br) e confesso não me surpreender com os seus desdobramentos.
Governos como os de Unaí caracterizam-se pelo abuso de poder (sobretudo sob a forma do abuso de autoridade ou de poder econômico) e pelo culto à personalidade. São regimes democráticos na aparência, mas de força na realidade. Por isso não seria exagero proclamar que temos um governo autocrático em Unaí.
Em regimes assim, costuma-se calar os opositores (geralmente pelo controle dos meios de comunicação), dominar outras instâncias de decisão (como o Legislativo) e estabelecer uma máquina de propaganda que, falseando a realidade dos fatos, difunde e amplifica as realizações do governo, com ênfase nos méritos pessoais do Administrador.
Desde 2005 é assim que vivemos em Unaí, embora a maioria da população não se tenha dado conta disso. Durante quase seis anos, o que assistimos foi o completo silêncio das oposições, o domínio total dos meios de comunicação (especialmente jornais, TV e rádio), o aparelhamento da máquina pública (com a criação de centenas de órgãos e cargos de livre nomeação e exoneração visando negociar apoios políticos) e o total descaso com os serviços públicos.
Cabe adicionar, para tristeza dos que atuam como operadores do direito, que várias dessas ações acontecem com a complacência até mesmo do Ministério Público Estadual, porque não se tem notícia de procedimentos ou ações propostas pelo Parquet em face de inúmeras situações aparentemente irregulares e sobre as quais as poucas vozes dissonantes na sociedade ousaram manifestar.
O modo como a Administração trata os servidores públicos é o exemplo mais acabado da prepotência e arrogância de seus mandatários. Isso também não constitui novidade, dado que o atual governo é profícuo em medidas atentatórias dos direitos dessa categoria profissional.
Que o digam os Analistas de Saúde e os Assistentes Técnicos em Saúde, servidores que possuem a mesma qualificação dos Profissionais de Saúde e Técnicos em Saúde, mas que, graças a uma manobra legislativa manifestamente ilegal, cumprem jornada de trabalho semanal muito superior por uma remuneração inferior.
A deflagração de uma greve (não obstante a falta de regulação no setor público) constitui o exercício de um direito constitucional e representa o meio colocado à disposição dos servidores para a defesa de seus interesses, frustradas as negociações que a antecederam.
Os descontos na folha de pagamento dos servidores, notadamente à míngua de uma declaração judicial sobre a ilegalidade do movimento, constituem ato extremo e reforçam o conceito de que o atual governo é autocrático e insensível, já que pretende dobrar os servidores pela intimidação, afetando a sua renda.
A majoração do IPTU – ainda que alguns aleguem que decorre de simples correção monetária ou de reavaliação do valor venal da propriedade territorial – é outra medida própria de governos com esse viés autoritário. Visa fazer caixa, ao final do ano, especialmente para honrar compromissos realizados em ano eleitoral. É lastimável que a sociedade unaiense tenha que pagar a conta dos desmandos.
E antes que alguém me acuse de incitar a insubordinação civil, digo que o pagamento de tributos é um dever de cada cidadão, o que não significa que os governos possam, de forma abusiva, praticar a derrama, solapando direitos fundamentais dos contribuintes, como o da anualidade, da reserva legal estrita e da proporcionalidade.
Quanto às obras públicas, temos líderes cuja visão remonta ao Século XIX. Para eles é mais relevante, em especial nos períodos eleitorais, transmitir a ideia de que estão sendo realizados investimentos públicos, mesmo à custa de planejamento ou da adoção de medidas preliminares essenciais à sua implantação.
Asfaltar ruas onde não há rede de esgoto ou galerias pluviais é o exemplo mais concreto desse tipo de governante, para quem não interessa a obra em si ou os benefícios que possa produzir para a comunidade, mas o efeito eleitoreiro que dela resulta. Importa a propaganda, não o resultado.
Por isso, é salutar que a sociedade comece a sair do torpor em que se encontrava. Parece que estamos acordando do estado de letargia em que vivemos nos últimos seis anos. Seja por motivos nobres ou não, é alvissareiro assistir os movimentos de enfrentamento ao atual estado de coisas, inclusive na Câmara Municipal, que havia se transformado, durante os últimos anos, em um belo e decorativo órgão homologador dos interesses oficiais do governo.
É em razão disso que repito: o modo de agir do atual governo não me surpreende. A surpresa reside na reação de setores fundamentais da sociedade. Tomara que continuem assim, para o bem de todos.